domingo, 31 de janeiro de 2010

old - on

Sinto-me desencontrada com a cadeira e as escadas desta divisão..., desta casa. Ponto de refúgio, e seu caminho de ligação, que descia sempre em sobressalto interior.
Tock...Tock...Tock...
Lá vinhas tu de tacões, nessa altitude hipócrita de quem se escondeu a vida inteira, a descer de novo as minhas escadas. Fazia-me indiferente. Cega e surda como o diabo distraído, que facilita o destino de cada uma de nós.
E mais cedo do que eu pudesse comandar, o inferno subjugava-me de novo àquele lume transparente, jocoso..., dissimulado como ele só..., reduzido à mais autentica raiva no meu olhar, que te evitava numa mistela de ódio e lamento.
Tock...Tock...Tock...
Mas tu permanecias ali, mesquinha. Cobarde, superior. E eu dos meus bocados de porcaria enregelada fazia o meu próprio busto inquebrável!
E é quando, com toda a força bruta e invisível aos olhos de quem não te conhece como só eu, tu me envolves o tenso pescoço imóvel com as tuas mãos velhas, e mo apertas até a minha cabeça explodir num finito latejar.
Após o sangue que secou e se limpou a si mesmo com o tempo, da cadeira, pegas num dos meus pedaços de rosto, e entre a tempora e a testa, dás-me um pesado e doce beijo.
Tock...Tock...Tock...
Sobes por fim as minhas escadas..., e roubas o que é meu, deixando sobre cada pedaço de mim, aquilo que julgavas ser teu.


sábado, 30 de janeiro de 2010

Colors in Black


Hoje parece quase impossível como tudo se passou...

Tudo começa com um som solitário, um acorde solto no piano...
Depois, ouço-o crescer na minha cabeça, no meu coração...
Atravessa tudo aquilo que passei para chegar até aqui e, começa lentamente a tomar forma...
Levanta-se em direcção ao desconhecido, e vagueia pelo mundo dos outros, ecoa nas paredes das casas e fecha-se no interior dos carros...
Hoje, parece quase impossível como tudo se passou, uma memória dispersa e distante. Uma espécie de um sonho que me vou lembrando à medida que o tempo passa...
E quanto tempo passou, desde o primeiro dia de ensaios...!

(Adaptação de David Fonseca)

Asas de chumbo

Toda a sua vida, se sentiu acrescido pelo desejo corrido de voar. O seu pai de prática profissional e formalmente conhecido como aviador prestigiado, conduziu-o a um desejo comum de elevadas altitudes. Era então o seu traço demarcador de partida, uma linha invisível a cima do nível do mar alto, ou das tenebrosas montanhas, campos extensos, cascatas além minas húmidas e incertas de solidão.
Arquitectou projectos macabros, e ousados e ardilosos..., mas todos eles condenados ao fracasso. A genialidade da sua ante-obra terminou-lhe a brilhante e fundamentada busca numa, agora, linha bem carregada de fim.
Para lá da pista, foi ele, por entre reinvenções inúteis e anacrónicas dos protótipos movidos pelo ser humano, que marcou os tempos pioneiros da aviação.
E a verdade (a que não consta)...,
é que ninguém precisou de o saber.

Imagem em Deviantart

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Flexibilidade inflexível.

(...) É arrogante. E atropela exaustivamente palavras de convicção.
É impaciente. Demasiado impaciente.
E através da sua agressividade impulsiva, impinge, apenas e somente, a sua verdade;

A consciência da maior consciência de todas: A sua estupidez.


A besta não pede desculpa sem autenticidade. Talvez depois se voltem a olhar sem vapor de cigarro a jugular o seu caustico.

A besta dá agora o retiro inválido.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Puxem-me agora os cordelinhos.

Todos somos marionetas do sentimento. Todos temos o norte que o nosso ilusionista nos comanda. Ele... muito maior do que nós... cega-nos, na direcção do sol...E dança-nos com os seus dedos, totais detentores do sentido que nos comanda o valor.
E para lá do eco de suas gargalhadas desarvoradas, vês-lhe comandantes e ágeis cordéis.
Venha o primeiro mentiroso fugido do circo, que garanta que cortou seus próprios cordéis;
Esse parasita do proveito insípido. Infeliz.

Se infelicidade é uma questão de prefixo, não me deixem agora morta sobre o Palanque.

Dás por ti, marioneta sem par, e quem esta ao teu lado... é o Ilusionista do teu Senhor.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Três pontos finais.

Olho para ti, e tudo o que consigo suspeitar é mágoa.
Todos estes militares cheios de pão nos bolsos, não procuram mais que oportunidades. Oportunidades arquitectadas, ou simplesmente oportunidades de imprevistos. Dão o corpo ao manifesto por seis ou sete focos neste palco que nada mais é que uma rua de carniceiros sem lares.
Toda a tentação tornou-se qualquer coisa sensabor patrocinada pela maior empresa que é o mundo. Eu podia avaliar o porquê de todo e qualquer alinhamento dos flyers e cartazes, e o mais que me impinge em tonalidades fabris, mal abro os olhos ao acordar. Mas sou apenas eu. E mais que isso não posso ser.
Suspeito-te a plenitude da mágoa. Por detrás de tanta certeza em alucínio, não te dás ao luxo de ter sujo o espelho da porta do armário, como toda a gente que não prevê o falhanço.
Queria poder passar-te a mão pelo rosto, e fazer-te ter toda e a total certeza de que nunca te perdeste e mostrar-te ainda e finalmente o meu abraço...
Mas quando olho para ti do caos da minha casa, a tua mágoa é traiçoeiramente ofuscada pelo brilho do espelho da porta do meu armário.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

À Noite...

O silêncio é teu gémeo no Infinito.
Quem te conhece, sabe não buscar.
Morte visível, vens dessedentar
O vago mundo, o mundo estreito e aflito.

Se os teus abismos constelados fito,
Não sei quem sou ou qual o fim a dar
A tanta dor, a tanta ânsia par
Do sonho, e a tanto incerto em que medito.

Que vislumbre escondido de melhores
Dias ou horas no teu campo cabe?
Véu nupcial do fim de fins e dores.

Nem sei a angústia que vens consolar-me.
Deixa que eu durma, deixa que eu acabe
E que a luz nunca venha despertar-me!

Fernando Pessoa

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Dilúvio Éboriano

-ACORDA! TEMOS A CASA INUNDADA!
-Hãm?
Levanto-me, sento-me na cama e antes que os meus pés pousem no chão... SPLASH!
Ora, de escassez já não me posso queixar!
Lá se foram todas as obrigações (érrimas) de hoje para o caray. Para não papaguear os restantes...incidentes.

Nosso Sinhori incutiu-me de uma missão: A experimentação de todo e qualquer extremo.

E a mais não somos obrigados.

p.s.: Cumprimentos à vizinha fadista.
ObrigadOS!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Miss Mi

O seu corpo queixava-se dos passos a mais que deu, por ignorar o eterno caminho.
Estava agora curvado, dorido, enegrecido, glacial por entre as articulações que já nem entendiam os impulsos nervosos.
Sobrevivia entre a teima da falha, e o limbo da vitória. A miserabilidade da possibilidade de ganhar assobiava ao seu redor, e ela sepultava-se naquela quantidade sufocante de chuva.
Queria poder gritar o que faltava. Chegava perto de todos os que a chamavam e com um leve toque de varinha, iluminava-os. Queria-os, e com a sua longa capa negra salpicada de estrelas brancas, cobria-os, serena. Afagava-os com o negrume de veludo, e olhando-os de cima, protegia-se a si mesma. Escondia-se atrás deles, e eles não mais ficavam que protegidos pelo véu da noite.
Inimputável ela ficou no outro, qualquer caminho, muito antes de os encontrar.
E com o velho sorriso tépido das restantes cores, despediu-se deles já no horizonte.
Ao virar costas, sabia que os ia voltar a ver, outra vez..., mas nunca melhor.

Imagem em Deviantart

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Corte Éboriano

Ah e tal, porque durante pelo menos dois dias não haverá água na bela da cidade! Ponta,pinga! NADA! Ah e tal, porque grandes quantidades de metal foram encontradas na rede pública.
Sim 'tá bem.
Ou seja, nem água para lavar as pontas dos dedos mindinhos, nem água para cozinhar e BEBER!
O autoclismo está mais seco que o meu humor, e os stocks dos benditos garrafões de água esgotaram em todos os hipermercados e até na mais remota lojinha de esquina!
Eu, muito originalmente, ao contrário de grande parte das alminhas, não me precavi.
Apanhei banhos de chuva na rua, e agora que preenchi o pátio de baldes e garrafas e garrafinhas, a Dona Chuva resolveu não passar das nuvens cinzentas, e não passar cartão ao pessoal mal agradecido.
É bem, 'Tóbrigada!
Até à fonte da praça fui, mas na pia dos porcos quem adormece não come,ou, neste caso,não bebe. Entre outras coisinhas... PRIMÁRIAS, vá!

No meio de tudo isto, descobriu-se em Évora uma nova tendência artística. Pois nunca antes tinha visionado de borla e em plena calçada popular uma enorme e variadíssima exposição de recipientes básicos de uso doméstico, num cuidadoso alinhamento sob os pingantes dos telhados e varandas. Confirma-se, do sofredor se faz artista!

PAMBA!
Qué é como quem diz: Rais parta esta m&%#ª!!

Prova de Choque...



Precisa-se...
Ou precisava-se, caso o choque fosse a prova.
Seria tudo mais ou menos resolvível.
Precisava-se..., caso houvesse apenas duas ou três alternativas.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Recorte dos livros dourados

A razão pela qual a despedida nos dói tanto, é porque as nossas almas estão ligadas. Talvez sempre tenham estado e sempre estarão. Talvez nós tenhamos vivido mil vidas antes desta e em cada uma delas acabamos sempre por nos encontrarmos. E talvez a cada vez tenhamos sido forçados à mesma separação e pelos mesmos motivos.
Isso significa que este adeus é ao mesmo tempo um adeus pelos últimos dez mil anos e um prelúdio do que virá.

Diário da Nossa Paixão

Nicholas Sparks

sábado, 2 de janeiro de 2010

Balanços de balanças, ou algo muito parecido.


Porque (e porque eu até nem gosto de começar o que quer que seja com um "porque"...) o tédio que procuro merece um hino, serei tão breve quanto as horas. E a propósito de apontamento, aproveito para deixar:
Um bem haja aos maquinistas dos comboios.
Um cordial cumprimento ao senhor do carrossel infantil da estação.
Um aceno sereno aos seguranças do Louvre.
Um sorriso fiel a quem, como tu, descobre a felicidade aos pequenos papeis nesse apartamento cinzento.
...A quem gritou a plenos pulmões na passagem de ano.
A quem vi os olhos a brilhar no meio da mancha da multidão.
A quem tem saudades de uma lareira na sala.
A quem come chocolates a ver um bom filme numa noitada qualquer.
A quem sai de casa a correr para ir buscar quem ama ao aeroporto.
A quem come a casca do limão.
A quem me ajudou a tirar um dos malões do comboio para a plataforma.
A quem sente a placidez de um domingo ocioso qualquer.
A quem compra flores.
A quem só calca as listas brancas das passadeiras.
A quem sente o ritmo da música que se faz ouvir nas colunas presas aos postes de luz da via pública.
A todos, um acentuado e sincero aceno sem chapéu.

Ah, e já me alonguei..., e, com tal, já me esqueci do que ia falar primeiramente...
E ainda bem.
Somem
mais um número ao referente ao do ano passado, que eu dir-vos-ei que pelas minhas contas...dois mais dois, é igual a cinco. Portanto, já têm uma vaga ideia.