segunda-feira, 14 de março de 2011

- Tragam-me o bagaço e o lenço de seda!

Como se incidir sobre do universo masculino, fosse só injusto e preconceituoso.
Injusto, perspectivando os factos universalmente categóricos, muito possivelmente sim. Tão possivelmente, que são o suficiente para justificarem grande parte dos desencontros humanos.
Mas é hipocrisia dizer-se ser só isso. Injusto e preconceituoso. Preconceito não só limita como delimita. Tivéssemos nós muito menos preconceito, e rapidamente seriamos livres do desnecessário. Não o tivéssemos todos em alguma coisa, e rondávamos constantemente a insanidade incoerente.
O facto é que o universo masculino, por tão e tão pouco dependente, dominará sempre os interstícios da vontade e do avanço interno.
Bem há quem seja maior. E indiscutivelmente melhor. Bem há mulheres capazes de ultrapassar toda e qualquer guerra de pistola à cinta e espada em riste, de cabelo ao vento ou rapado, e colocar em sentido e a um canto qualquer homem libertino ou rijo. Bem há mulheres que tentam e fazem o triplo e o imensurável de uma alma solitária.
Mas elas são assim, sempre. Sozinhas.
Umas são fracas demais para o saberem. Outras, atalham caminho, porque negam tal virtude. Outras ainda, atravessam todas as cidades, à procura de pequenas praias com sol, e depois fogem para a origem, outra e outra vez... E ainda há aquelas, que teimam em traçar as avenidas, as praças, os cafés, as praias, e os becos escuros, sempre a longo curso, por entre toda a gente que encontram, ouvindo apenas os seus próprios passos e os ecos das casas.
É uma alusão ao calor. Uma alusão à dependência. Uma alusão ao sistema cúbico, viril e pouco delineado que conseguem e que não é seu. Uma alusão à canção simples e desmedida, também.
Uma alusão ao que têm de mais e maior..., como que uma bela e grandiosa ponte de mármore construída entre cidades cinzentas.
E eis o canal... Eis o rio que passa entre e sob, e que dita o que nele mesmo encerra. Nunca quem dele protege as vidas que atravessam e que passam sobre e para ele.
Dizem que acreditar na igualdade é senso-comum e progresso justo.
Eu, ainda que acérrima de tal verdade , afirmo com mais sinceridade a mentira que esta encerra.
Se é de sociedade que falam, eu cá falo de verdade. Daquela que vos impede de adormecer, quando o silêncio afoga. Daquela que vos impede de acordar de faces rosadas, quando a manhã é chuvosa e gelada. Daquela que vos acobarda perante a facilidade. Que vos avalia a rudez e predispõe.
Daquela que limita a beleza genuína ainda.
Daquela que vai para além da vontade nobre e da elegância corajosa.


Egoísmo; Palavra tão volátil como o açúcar. E na dose certa.
Este é o conceito base ao qual a imensidão feminina se molda. Com mais ou menos mérito. Com mais ou menos do mesmo, travestido.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Mais um

De repente, o já amorfo sabor da carne na minha boca seca
Eu, sendo lúcida, mas não clara

Não sendo o peão, nem
o herói
De repente, e outra vez

Coisas aleatórias de coisas

Sabe mal

O cheiro fétido deste agrado pela distância
Distante do que toca

Perto da distancia do que nunca esteve perto

E sabendo que pertenço ao prisma universal

Lamento, mais que o vagabundo que invejo,

Tal singularidade comum

Tal sexualidade vã

Tal compromisso sem cama
Os lábios estalam do que não fui mais capaz de lamentar

Nesta banalidade discutida

Mas sempre sem condenação justa

A elegância e a brutalidade que me assomam

Tornam-me árida como um deserto africano

E lá bem no meio

No exotismo do âmago negro e profundo da minha pélvis

Os meus gemidos e suor

Que, ainda que nunca simulados

Nunca me saciaram a sede

Nem alguma vez deram a beber
E por fim,
(É fácil dizer E por fim...),
Em jeito de trocadilho previsível

Sabe bem

Morrer de sede

E chegar ao fim da viagem
Aquela que ficou por fazer

terça-feira, 8 de março de 2011

S'oro...

Não sei escrever. Tem dias que sei que qualquer coisa só. E geralmente nem são de se referir. Porque são de mim ou para comigo.
Sei; Quando vou ao médico, e ele, ao pegar numa pequena espátula de madeira, pede-me em jeito predefinido; Abra a boca e diga "Áh"!, e eu orientada, escancaro a boca, espondo-a até à uvula sem ponderar, e solto um tosco "ÁaAAaah!".
Sei disso, porque ele vê-me inteira num segundo e noutro faz-me o diagnóstico. Ao levar a receita para casa, ainda ofereço capital pesado, sem que isso me faça ir de bolsos mais leves para casa.
Sei mais ou menos disso, sem que ninguém me contradiga.
Depois, nunca mais volto a ver tal homem de bata branca tão perto de mim, de lâmpada agarrada à testa a apontar-me para o intimo. Nunca mais até outro dia qualquer igual, numa sala de espera enfadada de cheiro a gente e moléstia.
Depois, existem aqueles que com uma chávena de chá quente de limão, trazem-te à cama o placebo (quero acreditar sempre que o seja, fundamentalmente).
É, depois existem esses.
Acreditam-te calada, de boca fechada num sorriso. Meramente pálida. E tratam de ti consoante o estranho que te pediu a primeira letra do abecedário à maior força vocal. Pela bata branca talvez...
Mas tu acreditas que ele-estranho é que sabia. Assim como sabes que o chá faz-te bem e é feito de vontades.
...Patologia grave, a minha.

E quem disse que é da sorte ou do acaso, do valor ou da vontade..., certamente que morreu inteiro. Inteiro de verdades comprometidas. De duvidoso horizonte.
Eu digo só que a culpa é tua.
Sim, tua.
Que me deixaste à chuva sem chave de casa. Que me deixaste mil cigarros numa só caixa à cabeceira. Centenas de garrafas de wisky escondidas no armário. Incontáveis e indomesticáveis insónias. Demasiada comida estragada e água impotável.
E ainda que possa falar do que me levou até ti, e do que antes de ti te trouxe, nada me levaria agora a não dizer que a culpa é tua desta enfermidade explícita.
Que a tua falsa felicidade incapaz, faz assim de mim uma franca infeliz mentirosa.

De mim para comigo, assim mesmo em escrita doente, articulo este défice da base gramatical; É doença, a culpa. E é agora tua.

A culpa é tua.